segunda-feira, 9 de abril de 2012

Estimulação cerebral não invasiva

Estimulação cerebral não invasiva é arma para melhorar cognição

O Globo
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CHICAGO, EUA — Uma das experiências mais frustrantes para os pacientes que sofrem um derrame é a inabilidade de falar e encontrar as palavras certas mesmo quando eles sabem o que querem dizer. A terapia para resolver ou amenizar o problema pode durar meses. Novas pesquisas, porém, prometem alívio mais rápido, por meio de uma técnica não invasiva de estimulação cerebral, para estes e outros problemas de cognição. É a ETCC, estimulação transcaniana com corrente contínua. Os resultados de trabalhos feitos por pesquisadores de diferentes países, inclusive o Brasil, foram apresentados nesta segunda-feira, durante o encontro anual da Sociedade de Neurosciência Cognitiva, em Chicago. Eles abrem a possibilidade de se melhorar signitivamente uma série de habilidades: da fala à memória, passando pelo raciocínio matemático.

— A estimulação cerebral não invasiva é um método indolor, barato e, aparentemente, seguro de melhorar a cognição, e seu efeito é potencialmente de longo prazo — diz Roi Cohen Kadosh, da Universidade de Oxford.

Na ETCC, os cientistas aplicam ao cérebro do paciente correntes elétricas de baixa voltagem, por meio de eletrodos e por um período curto; 20 minutos, por exemplo, dependendo do objetivo. A corrente passa pelo crânio e altera a atividade neural espontânea. Alguns tipos de estimulação reanimam os neurônios; outras, reprimem-nos. Os pacientes normalmente sentem apenas um leve formigamento, por menos de 30 segundos. E os efeitos podem durar mais de um ano, diz Cohen Kadosh, provavelmente devido a mudanças moleculares e celulares que são importantes no processo de aprendizado e para a memória.

Paulo Sérgio Boggio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, usou a ETCC para melhorar a memória de pacientes com Parkinson e Alzheimer. Suas pesquisas indicam que a técnica também poderia melhorar a memória de pessoas saudáveis.

No estudo com pacientes que sofrem do mal de Alzheimer, Boggio procurou saber quantas sessões de ETCC seriam necessárias para melhorar a memória e o reconhecimento visual dos voluntários. Sua equipe aplicou-lhes cinco sessões consecutivas de ETCC para estimular duas diferentes áreas do cérebro envolvidas em coordenação motora, organização e normatização. O reconhecimento visual dos pacientes melhorou 18%, e os efeitos duraram um mês. Num estudo semelhante, com pessoas que têm mal de Parkinson, a memória melhorou 20%.

— Estes estudos demonstram o potencial da ETCC para a melhora da memória em idosos com Parkinson e Alzheimer e abrem as portas para que se examine possíveis efeitos de longa duração em trabalhos futuros — diz o pesquisador brasileiro. — É importante entender que estas ferramentas ainda estão no nível da pesquisa, mas, ao mesmo tempo, têm mostrado resultados promissores, com algumas vantagens: são baratas, simples de aplicar e tem efeitos colaterais reduzidos.

Jenny Crinion, da Universidade de London, que é neurocientista e trabalha com terapia da fala, quer usar a ETCC para ajudar os pacientes de derrame a recuperar sua capacidade de comunicar seus pensamentos por meio do discurso. Ela combina o método de terapia da fala com a ETCC.

Num estudo, Jenny quis saber como a ETCC afeta as áreas do cérebro envolvidas na produção do discurso. Os pacientes foram submetidos a seis semanas de tratamento com a técnica, ao mesmo tempo em que eram convidados a fazer reconhecimento de imagens de figuras simples, como um carro, e nomeá-las o mais rapida e acuradamente possível.

Os resultados mostraram que a técnica é eficaz para melhorar o discurso tanto de idosos saudáveis quanto de pessoas que sofreram derrames, e estão ajudando a identificar que partes do cérebro devem ser estimuladas.

— Meu trabalho mostra que a ETCC pode ser usada para estimular a área afetada pelo derrame e otimizar a recuperação — diz Jenny, acrescentando que é preciso fazer mais estudos para garantir que a técnica pode beneficiar todas pessoas. — O que mais me impressionou é como o cérebro continua plástico, adaptável e mutável ao longo de toda a vida, inclusive nos casos de pessoas que sofreram derrames.

Na Universidade da Califórnia, Cohen Kadosh aplicou a ETCC para tentar melhorar o raciocínio matemático dos voluntários. Seu estudo mostrou que isso é possível, quando se aplica a técnica à parte do cérebro chamada de córtex parietal posterior. A melhora no desempenho que ele observou durou seis meses e foi relativa especificamente ao material estudado pelos participantes.

Kadosh também testou os efeitos da ETCC em pessoas com pouca habilidade numérica devido a fatores congênitos. Nestes pacientes, a técnica só foi efetiva quando alvejou regiões diferentes daquelas alvejadas nos cérebros de pessoas que não tinham o problema.

— Isto sugere que pessoas com discalculia recrutam áreas diferentes do cérebro para processar números, provavelmente devido a uma reorganização do cérebro — observa.

Ele diz que há pesquisas usando ETCC também para tentar melhorar o aprendizado de crianças que têm pouca habilidade com números.



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