Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Questão de Terminologia
Esclerose é um termo genérico que significa endurecimento e cicatrização. Esclerose lateral refere-se ao endurecimento da porção lateral da medula espinhal decorrente da morte dos neurônios motores superiores (neurônios da região cortical, mais precisamente no giro pré-central – área motora).
A significa não. Mio refere-se a músculo. Atrofia é um termo médico usado quando alguma coisa torna-se menor ou se enfraquece.
Amiotrófica refere-se à fraqueza dos músculos que se tornam atróficos devido à morte dos neurônios motores inferiores (originados da porção anterior ou ventral da medula espinhal).
Esclerose Lateral Amiotrófica significa fraqueza muscular secundária a comprometimento dos neurônios motores.
CLASSIFICAÇÃO E QUADRO CLÍNICO
Dois tipos de neurônios motores são afetados na ELA: neurônios motores superiores (NMS) ou primeiro neurônio (células de Betz), os quais estão localizados na área motora no cérebro, e neurônios motores inferiores (NMI), ou segundo neurônio, que estão localizados no tronco cerebral e na porção anterior da medula espinhal.
Os NMS regulam a atividade dos NMI, através do envio de mensagens químicas (neurotransmissores). A ativação dos NMI permite a contração dos músculos voluntários do corpo. Os NMI no tronco cerebral ativam músculos da face, boca, garganta e língua. Os NMI na medula espinhal ativam todos os outros músculos voluntários do corpo, tais como aqueles dos membros (superiores e inferiores), tronco, pescoço, bem como do diafragma.
O diagnóstico clínico é baseado nos sítios topográficos iniciais de comprometimento no sistema nervoso (neurônios motores superiores, neurônios motores no tronco cerebral e neurônios motores espinhais). O comprometimento de cada um dos sítios topográficos é caracterizado pela presença de sinais e sintomas característicos:
Disfunção do Neurônio Motor Superior
- Fraqueza
- Reflexos tendíneos vivos
- Presença de reflexos anormais
Disfunção do Neurônio Motor Inferior
- Fraqueza
- Fasciculações
- Atrofia
- Atonia
- Arreflexia
Disfunção dos Neurônios Motores do Tronco Cerebral
- Disfagia
- Disartria
A classificação das DNM depende de vários critérios, incluindo síndrome clínica, com predominância de envolvimento dos tipos de neurônios motores, alterações morfológicas, padrão de herança, achados eletrofisiológicos e anormalidades bioquímicas e imunológicas.
Esclerose Lateral Primária (ELP)
A ELP, doença pura do NMS, se caracteriza por surto insidioso, de evolução lenta, sem história ou evidência de envolvimento e qualquer outra parte do sistema nervoso exceto os tratos córtico-bulbar e córtico-espinhal. Não há evidência, pelo menos nas etapas iniciais da doença, de comprometimento, tanto clínico quanto eletroneuromiográfico, do NMI. Clinicamente manifesta-se com quadriparesia espástica, reflexos tendíneos profundos exaltados, sinal de Babinski bilateral, disartria espástica e labilidade emocional (quadro pseudobulbar).
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
A ELA se caracteriza por paralisia progressiva marcada por sinais de comprometimento do NMS (clônus e sinal de Babinski) e do NMI (atrofia e fasciculações). É a forma mais comum das doenças do neurônio motor e, por isso, freqüentemente, o termo ELA é utilizado indistintamente para as outras formas de DNM. O envolvimento predominante é o da musculatura dos membros (membros superiores mais que os inferiores), seguindo-se comprometimento bulbar, geralmente de caráter assimétrico. Muitas vezes, precedendo ou seguindo-se a instalação dos sintomas os pacientes queixam-se de cãibras.
Fraqueza, atrofia e fasciculações nos membros são os sinais clínicos mais proeminentes. Mais tarde, são afetadas as funções vocais e respiratórias. Os nervos cranianos, que controlam a visão e os movimentos oculares, e os segmentos sacros inferiores da medula espinhal, que controlam os esfíncteres, não são usualmente afetados.
TRATAMENTO:
Na atualidade, não há cura para a ELA. Os mais variados tratamentos já foram tentados, incluindo-se antioxidantes, bloqueadores do canal de cálcio, agentes antivirais, inibidores da excitotoxicidade, plasmaférese e imunossupressores, mas não houve uma mudança significativa na história natural da ELA.
A média de sobrevivência após o início dos sintomas é de 3 a 5 anos. Na forma com envolvimento bulbar (Paralisia Bulbar Progressiva) a sobrevivência é menor, variando de 6 meses a 3 anos.
Há, por outro lado, pessoas que vivem mais do que dez anos com a doença. Destaca-se a longevidade de Stephen Hawking, que a despeito de um prognóstico reservado dado em 1964, quando tinha 21 anos de idade, ele continua vivo e produtivo, mesmo com todas as limitações que a doença impõe.
Reabilitação: (misteriosamente não foi citado no site a importância da terapia fonoaudiológica para pacientes com ELA).
A fisioterapia motora e a fisioterapia respiratória assumem uma enorme importância no contexto do tratamento da ELA. Ressalta-se em um estudo internacional a importância de um programa diário de exercícios orientado pelo fisioterapeuta, a cada 15 dias, mas realizado em casa pelo próprio paciente e sua família, com exercícios moderados, sem resistência, com tempo não ultrapassando 15 minutos/sessão em alguns trabalhos ou de 30 minutos em outros. Exercícios prolongados ou excessivos poderiam levar a fadiga ou até maior degeneração do motoneurônio.
Preconiza-se assistência manual e mecânica à tosse e introdução precoce da assistência ventilatória não invasiva (AVNI). Respeitando-se a autonomia do paciente, a AVNI poderá ser feita sob máscara com aparelho de pressão positiva (BiPAP). O ponto crucial da assistência ventilatória é a sua introdução precoce que permite melhorar a qualidade e a duração da sobrevida de pacientes com ELA. Inicialmente, preconiza-se o limite da queda de 50% da capacidade vital forçada (CVF) para a introdução da assistência ventilatória. Atualmente, porém, sabe-se que antes desse valor já ocorre hipoxemia noturna e diminuição da pressão respiratória máxima.
Disartria
Afeta cerca de 80% dos indivíduos com ELA, causada por atrofia e fraqueza da língua, dos lábios, dos músculos faciais, da faringe e da laringe.Manifesta-se, inicialmente, com rouquidão, voz débil, falta de vocalização, resultando, em uma fase final, anartria.Há necessidade de auxílio terapêutico o mais precoce possível, para orientação de estratégias de comunicação.
Disfagia e Desnutrição:
A disfagia afeta cerca de 60% dos pacientes, causada por paralisia e atrofia dos músculos bulbares, devido ao comprometimento dos nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso.Manifesta-se clinicamente com perda da capacidade para mastigar, impulsionar a comida com a língua e formar o bolo alimentar. Há perda do reflexo de engolir. Como resultado final há desidratação e perda de peso, aspiração e infecções pulmonares recorrentes e piora da capacidade respiratória. Para o seu tratamento há necessidade de atuação multiprofissional (fonoaudiólogo, nutricionista, gastroenterologista) rápida e coordenada. A sialorréia, muito frustrante para o paciente, pode ser tratada com uso de atropina (0,3 a 0,6 mg 2x ao dia), hioscina (0,3 mg 3x ao dia) ou amitriptilina (25 mg ao dia). Nas situações de desnutrição e pneumonia aspirativa recorrente, recomenda-se o uso de sonda enteral ou de realização de gastrostomia endoscópica.
Dispnéia
Fraqueza dos músculos da respiração (intercostais, diafragma, abdominais) é o problema mais grave durante a evolução da doença. O paciente começa a apresentar uma respiração mais curta e ter dificuldade para tossir. O acúmulo de secreção na árvore brônquica precipita irritação respiratória e infecção, justificando-se as pneumonias mais freqüentes nestes pacientes, sobretudo quando houver disfagia (broncoaspiração). A cefaléia matutina e o sono entrecortado já são sinais de comprometimento da função respiratória, relacionados com incremento gradual de CO2. Um maior incremento deste gás causa medo, ansiedade, pânico e, até, estado confusional. Acompanhamento com fisioterapeuta respiratório torna-se necessário para orientações e exercícios respiratórios apropriados, diários. Evitar quadro de fadiga muscular, durante o tratamento, propor exercícios de baixa resistência, com baixo número de repetições, respeitando o limite do paciente.
Texto retirado do site da ABRELA www.abrela.org.br
Caso clínico:
MLF, 53 anos, procurou meus serviços profissionais em dezembro de 2009, depois de ter feito videolaringoscopia no mês de setembro por causa de disfonia, o exame revelou fenda posterior nas PPVV; depois disso, ela foi atendida durante 2 meses por uma fonoaudióloga e relatou não ter sentido melhora na qualidade da voz. Em janeiro, consultou-se com um Especialista de Cabeça e Pescoço, o mesmo fez uma videolaringoestroboscopia, cujo exame revelou mobilidade normal das PPVV, coaptação completa das PPVV, leve assimetria em onda mucosa, periodicidade normal, amplitude reduzida, ausência de alterações laríngeas compatíveis com o quadro vocal.
Após a realização da Avaliação, encaminhei-a ao neurologista, onde a mesma fez ECG, RM, TC, ENM e ENM de repetição. Os exames não foram conclusivos para nenhuma doença degenerativa.
Resumo da Avaliação Fonoaudiológica (em 07/01/2010):
a) Respiração:
Irregular, arrítmica, tipo mista.
Tempo máximo de fonação: 12 segundos.
Coordenação Pneumo-fono-articulatória: prejudicada.
b) Mastigação:
Com movimentos verticais. A formação do bolo alimentar estava incorreta na forma, consistência e posição para o ato de deglutir. A mastigação foi realizada dos dois lados.
c) Deglutição:
Alterada. Apresenta dificuldades em deglutir líquidos, relata que é freqüente esgasgos ao alimentar-se. Apresenta incoordenaçao dos músculos envolvidos na mastigação e deglutição.
d) Articulação:
Apresenta imprecisão articulatória.
Dificuldade em articular fonemas fricativos, vibrantes, em grupos de /r/ e /l/.
B. Impressão Diagnóstica:
Os resultados demonstram que MLF apresenta Deglutição Alterada (provável disfagia), hipofunção de língua, lábios e bochechas, imprecisão articulatória, incoordenaçao Pneumo-fono-articulatória.
Data: 09/05/2010
MLF foi diagnosticada pelo neurologista, Dr. Glieb Avelar Pereira, como sendo portadora da doença Esclerose Lateral Primária. A mesma apresenta incoordenação da musculatura que envolve a respiração e deglutição, disartria, disfagia.
A paciente está sendo acompanhada por equipe interdisciplinar composta por fonoaudióloga, fisioterapeuta respiratório, neurologista e clínico geral, na medida de sua necessidade. Começou o tratamento medicamentoso das drogas habituais e ortomoleculares. Observou-se melhora em todas as queixas.
No mês de março encaminhei-a ao fisioterapeuta respiratório, visto que a dificuldade respiratória era grande; após algumas sessões observava grande melhora no quadro geral, maior disposição global, capacidade para tossir e diminuição nos engasgos (que já eram frequentes).
Na terapia Fonoaudiológica, trabalhamos proteção de vias aéreas, exercícios articulatórios visando manutenção da coordenação da deglutição, controle articulatório (MLF está disártrica desde março, é muito difícil a comunicação verbal).
Oi! Li o texto e fiquei curiosa em saber se esta doença tem início na infância e adolescência. Seu saber acrescenta no meu desenvolvimento profissional.bjs
ResponderExcluirMil desculpas pelos anos de demora em responder. Acabei não me dedicando mais ao Blog, pretendo fazê-lo.
ExcluirO aparecimento dos sintomas, na grande maioria das vezes, acontece na fase adulta.
Entrei em contato com o site da Abrela querendo saber o motivo de não ser citado a fonoaudiologia no link profissionais,eles esclareceram que o site está em construção e nem todos os profissionais passaram sua parte no tratamento, mas em breve esta informação constará no site.Porém no tratamento da ELA este profissional é essencial.
ResponderExcluirÂngela,
ResponderExcluirSob uma forma mais geral, no estudo da ELA verifica-se que o sexo masculino é mais comprometido que o feminino em uma proporção de 2:1 e os brancos são mais afetados que os negros, com idade média de início aos 57 anos, um pouco mais precoce nos homens. Cerca de 4 a 6% dos casos afetados são pessoas com menos de 40 anos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRosane Castello: além de ser uma pessoa maravilhosa, é uma excelente profissional! Amiga, companheira, atenciosa, solícita, etc. Admiro demais!
ResponderExcluirMLF tem o quadro instável, nenhum dia é igual ao outro; há dias em que se observa melhora no quadro da fala, articula pausadamente muito bem todos os fonemas (temos que demontrar o movimento articulatório para a produção dos mesmos), a voz sai audível e sem ruídos, outros dias a articulação é tão imprecisa que não conseguimos entender o que diz. Já a disfagia, que estava moderada, se mantém leve, raros são os casos de engasgos, e quando acontece, é muito rápido. Não teve pneumonia, febre ou qualquer complicação desde que se soube da doença. Em termos de terapia fonoaudiológica, posso dizer que as sessões duram em média 20 minutos, com várias interrupções; os exercícios tem poucas repetições, mas sempre procuro selecionar os exercícios para utilizar na terapia com base na necessidade, verifico como está a musculatura, coordenação, respiração e seu estado geral; há dias em que a terapia ativa não é aconselhada pelo cansaço geral, realizo massagem em toda a região.
ResponderExcluirA terapia é quase diária, ao contrário do que dizem alguns especialistas, trabalhamos diariamente exatamente pelo tempo de sessão ser bem menor e por não conseguir alcançar todos os objetivos de terapia num só dia... mas isso só é possível pela proximidade de nossas residências.
Observa-se que a terapia realizada à noite é mais satisfatória, pela manhã MLF encontra-se desanimada, como se tivesse dormindo mal, embora relate que tenha tido boa noite de sono.
Sua mão direita, por vezes, sente com reduzida coordenação, força e amplitude nos movimentos. Às vezes sente a perna direira com menos coordenação, anda como se estivesse sem equilíbrio, mas associo esse sintoma a qualquer queda no seu estado de homor, tristeza, ansiedade... esse sintoma passa após a estabilização do quadro emocional.
Continuamos esperando as boas notícias das pesquisas com drogas e células tronco.
Houve alguma alteração no quadro de MLF, a fraqueza na mão e perna direita se mantém e tem mais incoordenação, redução de mobilidade,com isso vieram as quedas, a primeira foi em julho quando subiu em um banco, fraturou a vértebra, deveria usar a cinta, mas não usa todo o tempo,portanto a fratura está consolidando mal. A deglutição se mantém estável se fizer as manobras de proteção de vias aéreas, caso contrário engasga.
ResponderExcluirNa parte respiratória pode-se notar que houve melhora na coordenação da musculatura, mas faz uso da cintura escapular como acessório. Há uma secreção que parece ser de via aérea superior, como se fosse uma alergia, iniciou tratamento para alergia, nebulização, BIPAP. Vamos viajar para Buenos Aires com toda essa medicação e aparelhos, mas para uma viagem dessas temos que ter a maior segurança possível, alugamos cadeira de rodas para maior conforto dela, iremos aproveitar o máximo que ela puder, sempre pensando em poupar a musculatura dela e respeitando seus horários de sono e medicações.
Na viagem à BsAs MLF passava os dias muito bem, mas à noite sentia dores com espasmos, falta de ar, tivemos que chamar a ambulância para que os médicos pudessem avaliá-la,voltou 2 dias antes do combinado, ao que parece o frio causava os espasmos na musculatura. Já no Brasil, nao sentiu mais os sintomas.
ResponderExcluirEssa semana caiu 2 vezes, cai para trás, perde a força muscular, mas sem maiores sequelas.
28/01/2011
ResponderExcluirEm dezembro notei maior fraqueza e incoordenaçã0 da musculatura que envolve a mastigação/deglutição; em início de janeiro fiz a indicação da gastrostomia para que seja assegurado a ingesta de líquidos, principalmente, pois a dificuldade em sugar é grande, para a alimentação pastosa há muita dificuldade também.
Hoje orientei a família a levar ao hospital para passar a sonda para alimentação, visto que a mesma não consegue alimentar-se.
Os espasmos voltaram, usa relaxante muscular que é o mais indicado para os espasmos. Sente dores fortes durante os espasmos.
28 de janeiro de 2011 13:47
MLF está hoje com 60 anos, traqueostomizada, alimenta-se exclusivamente por Gastrostomia, usa BIPAP para dormir e descansar, não sendo dependente do aparelho. Faz uso de Cough Assist como exercício Fisioterápico. Não tem movimentação de membros, gira a cabeça com limitação, engasga com saliva, necessitando de aspiração. Apresenta rigidez e fasciculação em face.
ResponderExcluirO trabalho Fonoaudiológico hoje consiste em postura de língua, lábios e cabeça, orientação quando à inclinação da cama, salivação... Estimulação dos pontos Motores da Face, alongamento da musculatura (pois no caso dessa paciente, há a presença de rigidez, causando mordida em lábios e língua.
Se comunica pelo olhar, piscando quando fazemos perguntas.